sábado, 18 de dezembro de 2010
XXIX - MULTIFORME
MULTIFORME
Revendo o verso quando a rima arranha
Certa noite em festim de uma façanha
Em seu poder que cada um domine
Seja a paixão disposta em magazine
E tal rigor liberto da artimanha
Possível em nua boca, a tua entranha
Num gesto que insinua e bem define
O que de mim escapa e nem previne
Nesse lugar que o ópio faz a hora
Gritando à vida em fogo impositivo
Paira capaz vontade sem demora
E dessa dança nasce o convulsivo
Incêndio que nos pega noite afora
Nos mata de o querer assim tão vivo
Miguel Eduardo-
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
XXVIII - INTIMIDADE
INTIMIDADE
Na quente majestade do cortejo
Envolto na ventura em que desfila
O reluzir de um mimo benfazejo
Nesse beijo reflete-se, destila
Misturada ao titânico desejo
Corporal, a luxúria da pupila
E nada há mais além desse requinte
No mar de inquietas ondas do lazer
Prazer outro não há, por conseguinte
Que se possa inventar para fazer
Que a noite de paixão é o seguinte
Resume o frenesi do entorpecer
Não é um faz de conta e nem o acinte
Que negue à tentação o acontecer
Miguel Eduardo Gonçalves
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
XXVII - PAIXÃO
PAIXÃO
Quando o sol estiver a pino regulado
E for um abraçar maior que pegue o mundo
O tempo será claro, azul, arregalado
Vestido só de céu, como um olhar profundo
Já nós seremos vento em fogo ornamental
Quando o desejo em júri seja percebido
Todo o meu será teu, esse calor vital
Exultante paixão, arbítrio todo ungido
Sem artifício algum, prazer em alto grau
Que escancarado sexo o tempo inteiro doma
E domando, o augurado gozo é a fatal
Ânsia de repartir certíssimo sintoma
Maior vício não há, atende por Paixão
Vingada em mim por não havê-la tido em vão
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
XXVI - EXATA ROSA...
Exata rosa para alguém
Seja da estirpe, essa que aprove
A sedução que me mantém
Que o tempo passa e a não demove
Rumando às cúpulas, meu bem
Nó de noves, sessenta e nove
Que vem, me pega e que abocanho
Qual fero tigre esfomeado
Perante o garbo sem tamanho
Supremo gozo coroado
E junto a ti, soneto estranho
Em cada verso aqui deitado
Digo o que quero e não me acanho
Tenho o meu sonho realizado
Miguel Eduardo-
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
XXV - PAIXÃO SORTIDA
PAIXÃO SORTIDA
Como um olhar que acende a madrugada
Em frasco de perfume raro nada
Grande sonho que traz o bem-querer
Cenário de uma nova temporada
Verifica-se em róseo amanhecer
Externada beleza que faz crer
É a cor de cada idade o inexorável
Mas não frequenta o tempo que me fita
Pois esse se apresenta inadiável
É eterno em cada hora a ser vivida
Porque a razão do mundo é ser palpável
Como a respiração a nós visita
Assalta-nos de pronto, imutável
É hábito, é sal, paixão sortida
Miguel Eduardo-
domingo, 12 de dezembro de 2010
XXIV - ZEN
ZEN
Sinto uma idéia a puxar-me
Ao preço grátis da vida
E povoada de charme
Linda noite a mim trazida
Sinaliza como alarme
A força do céu caída
Essa aparece pertinho
Onde se afina a matéria
Dimensão como adivinho
Penetrada em minha artéria
Imagem por que me alinho
Distante, prevista e séria
Qual sonho belo ou carinho
Sucede causando apnéia
Miguel Eduardo-
XXIII - REFÉM
REFÉM
Como se colhesse o tempo
O tanto que o entardecer
Colore as tonalidades
Em que são as horas tuas
A resposta que contemplo
Merecesse acontecer
No silêncio das verdades
Que vagueia pelas luas
Quais cenas de primaveras
Entoando mil auroras
Descobrindo meus senões
Fundir-se-iam quimeras
Pano de fundo que adoras
Em meras recordações
Miguel Eduardo-
sábado, 11 de dezembro de 2010
XXII - GRANDE IMPÉRIO
Por onde as horas são em desvario
Caprichos de uma estirpe dos sentidos
No espelho tremulante do arrepio
Em tesouro lacrado refletidos
E tudo vira imagem da arrelia
Que súbito prazer paixão povoa
Dilatando-se a prenhe alegoria
Tarado frenesi da concha ecoa
Prenda da grande ânsia genial
Represada na gaze do mais lindo
Rito da sensação universal
Fonte escorrendo néctar de um mistério
Onde as mucosas cheias vão florindo
Há um mar de essências puras, grande império
Miguel Eduardo-
XXI - VIAJANTE
VIAJANTE
Perco-me em curioso pensamento
Nele sinto um perfume conhecido
Que traz uma saudade sem sentido
Lembrança causadora do momento
Agora, passo a passo esse acalento
Pintado que se fora tão morrido
Um sonho que sentisse por ter ido
Imprevisto disfarce ao sentimento
Nem sequer o prazer é um ensaio
Segredo destinado à fantasia
Da vida tempo raro onde recaio
Que todas as volúpias desse dia
Vieram das memórias de um diário
Miragens do horizonte em melodia
Miguel Eduardo-
XX - Minha mnhã de sol em brisa mágica
Minha manhã de sol em brisa mágica
Em sua beleza ágil percorreu
De repente o frescor da boca ávida
Segundo que surgiu do nada e ateu
Foi num dado momento fé didática
E então criando vida foi-se o breu
De altas resoluções se abrilhantaram
A carne tenra, o rosto alvo e os passos
Como nuvem no céu contida é lã
Alegria esquentou sentires lassos
Cenários inflamados coroaram
Pulsantes como ecos em mil braços
Carícias que se foram num afã
De trazer à paixão nossos compassos
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
XIX - DILAÇÃO
DILAÇÃO
Raro pleito estrelou-me a companhia
Esse que o pensamento mal oculta
Porquanto ali viveu o que me ardia
E ainda é só loucura que me insulta
Ritual arrancado à terapia
Em cada gesto aclara mais, exulta
E se aprofunda em nós, como extasia
A pose em ti formada que resulta
E tudo vai ao vento como pólen
Enquanto mil instantes se decifram
Em nossas evidências como podem
Assim disse a paixão, como bem cifram
Esquecendo a razão, corpos que explodem
E em picos chamejantes se borrifam
Miguel Eduardo-
Nota: primeira variação de OLHAR CERRADO (VIII)
sábado, 4 de dezembro de 2010
XVIII - MADRUGADA AMANTE
MADRUGADA AMANTE
Dizendo no seu fecho em bela fala
A madrugada uiva o verbo amar
Inflamando o rubor que o instinto cala
Por querer-se adornada em só luar
E a gente entende como sendo gala
De um tempo leve no infinito ar
Que em hora dessas basta o contemplá-la
Mítica musa em pele do adorar
A fúria do prazer é evidente
Emerge do espetáculo que excede
À gloria sublimada em nossa mente
É coisa tão silente em que sucede
Paixão que forte vem e indiferente
Mas é, 'incontinenti', como pede
Miguel Eduardo-
XVII - LEDO ENGANO
LEDO ENGANO
Esses olhares seguem em segredo
Aonde alcança o mar por distraído
Entrevistos pesares que dão medo
Como aflige de insânia o amor contido
Cenário que conduz a engano ledo
Nas cores de um desejo pervertido
Em que a vontade dá, se faz mais cedo
E cede à voz mais forte e sem sentido
O meu querer é outro, é previsto
No foro expresso d’alma se regala
E se distrai enquanto o resto é quisto
Em meio de quimeras de uma escala
Acordes dissonantes do imprevisto
Que o coração medita mas não fala
Miguel Eduardo -
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
XVI - O BEIJO
O BEIJO
Feito fulgor de forma desmedida
Um belo instante ágil percorreu
Minha manhã de sol em brisa havida
Segundo que surgiu do nada e ateu
Tornou-se obra à graça cometida
E então criando vida foi-se o breu
Que fatos inflamados coroaram
Pulsantes como ecos dos abraços
Carícias então feitas num afã
De haver da fome louca mil "amassos"
Altas resoluções que cravejaram
A carne tenra, o rosto alvo e os passos
Se transformaram num prazer terçã
Matizes de esquentar sentires lassos
Miguel Eduardo-
XV - NA MELODIA DO SEXO
XIV - SINA
SINA
Sei que ninguém é perfeito
Tu, mulher, amor bandido
Não sei se entendo direito
Ou quiçá tudo invertido
Pela boca peço o beijo
Quero a noite em vez do frio
No entanto, carinho e jeito
Só tenho ao sol do arrepio
Lua da minha integridade
Que de novo torna dia
Tu és a minha saudade
És intrépida magia
Na letra, céu da verdade
Ainda és o que via
Miguel Eduardo
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
XIII - INTEIRA SINFONIA
Já febril de carinhos desenhada
Às passadas de um lúbrico volteio
Levanta a perna bem compenetrada
E a outra como a um toque pelo arreio
Regendo-se por dedos pelas costas
Dança de passos largos e precisos
Dando realce às roupas bem dispostas
E aos lábios entreabertos e indecisos
Sinal da quente música e do vinho
Na grelha desse fogo queima breve
A ponto de me pôr em desalinho
E ante o sangue da flor alucinante
O que era tão formal e sério e místico
Foram carnais momentos doravante
Miguel-
XII - INTER-FLOR
INTER-FLOR
As muitas curvas desejosas
Alentos que meus olhos veem
Cachos de frutas saborosas
Essências etéreas também
Gênio das mulheres dengosas
Dessas cujos perfumes creem
Vestirem peles vaporosas
São elixires do meu bem
Em seu corpo desponta um sonho
Que olhar algum jamais traduz
É ali que vive o que transponho
E que bem sei aonde luz
No paladar de tanta espera
Reside a fome de uma fera
Miguel Eduardo
XI - FLOR SILVESTRE
FLOR SILVESTRE
Na febre de um desejo rés da pele
É tal e forte a chama inebriada
Que o ato faz-se todo temporada
E o mundo se tranforma e se derrete
Na dança ornamental apalavrada
O meu desejo inventa e não repele
Para gozar a festa faz confete
Pois tudo é força mágica e suada
São dias animados de luxúria
Para aquecer a cor da confidência
E tal segredo saia da clausura
Como supostamente uma evidência
Modele-se em paixão que se afigura
Fazendo-a perfeita em florescência
Miguel Eduardo-
X - A MENTE
Como eu quisesse estar ausente à lida
Assim a face ao mar em muda areia
Levada em vento para bem na ida
Ao ar ser livre como é a sereia
Então, demente e esguia ogiva intensa
Tal uma escada ao céu levando adeuses
Ficasse eu só memória e pura crença
A ver corando o dia incertas vezes
No breu noturno acende ela ametista
Em estrelado cio de estrelas lindas
Solta a vencer sem ter lembrança à vista
Viúvo sol do vento amoralista
Tua língua foge quando tu te findas
Na minha mente efeito de aforista
Miguel-
IX - MOMENTOS
MOMENTOS
Um dia sabe sangue, e a rosa louca ri
Resolveu como quis, navegou no entre si
Fez-se noite atrevida, mulher distraída
Que gostando de ser, vai cometer a lida
Veio escutar um coração em frenesi
Pode perpetuar, sentindo o que sorri
Festa encantada, que mistura e rima a vida
Quando um casal se junta e a faz entorpecida
A céu aberto o leito é mar, valsa elegante
Reside em dança onde se perde e segue avante
Viagem sem regresso flui, grassa capaz
Que nesse corpo em que me entalo e fico lá
Despe-se a alma, o seio cresce e tudo há
Num só instante a vida inteira num záz-trás
Miguel Eduardo
terça-feira, 30 de novembro de 2010
VIII - OLHAR CERRADO
OLHAR CERRADO
Tanto tempo estrelou-me a companhia
Uma, que o pensamento mal oculta
Porquanto ainda vive como ardia
E faz a gula tanta que me insulta
Ritual majestoso que aprecia
Como um olhar certeiro mais exulta
E se aprofunda e faz da pose esguia
Nascer no fundo meu o que resulta
O ser na minha mente qual orquestra
Em cada acorde o vento em ventania
Na música que sinto que me amestra
Mas, percebida assim, fosse volúpia
Haveria de ser por essa fresta
Certa visão perdida de luxúria
Miguel Eduardo Gonçalves
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
VII - MORENINHA...
Moreninha, tu és da pá-virada
Que as contas dos teus olhos me diziam
Em meio da esperada madrugada
Mensagem que direta nunca embroma
Abaixo pela espinha endiabrada
Vão se chegando ao mando aonde queriam
Meus dedos em carícia desbragada
Por teu sabor querendo ter-lhe o aroma
E a mágica volúpia então diria
Me vira e me desvira sem pudor
Me pega e vai inflando o meu calor
Pois vou te amar até o sol se pôr
Se o teu desejo assim me avalia
Sentindo que te quero noite e dia
Miguel Eduardo Gonçalves
VI - INTROSPECTIVO
INTROSPECTIVO
Fico na sensação de uma vertigem
Errante pela noite afora, ao vento
O coração rasgado em sua origem
Transforma em agonia o sentimento
E a solidão abarca inteira a noite
Na janela enquadrada que aparece
Qual vazio da lembrança como açoite
Na forma que flagela e permanece
E é tão cortante a dor ali pensada
Que a lágrima se põe aqui sentada
Neste colo marcado a ferro quente
Demoníada dor em mim tatuada
Fora um clamor macabro e onipotente
Que traz ainda um tempo que a consente
Miguel Eduardo Gonçalves
V - COMPLEXIDADE
COMPLEXIDADE
No carinho das noites estreladas
Compostas de maneira a ser delírio
Em torpor dos sentidos dissipadas
As lentes sobre o nu como colírio
Tal arte está de mãos deliciadas
Sensualidade em nós, prateado lírio
A perpetrar nas áreas mais sagradas
Onde o torpor invade quente e frio
Cálice borbulhante de cristais
Capricho da paixão incandescente
Em suspiros letárgicos e ais
E a força musicada e recorrente
Faz radiante e com gestos ancestrais
Um coquetel de corpos ventre-a-ventre
Miguel Eduardo Gonçalves
IV - AFRODISÍACO
AFRODISÍACO
Inquieto qual champagne sorrateiro
Teu cheiro que me traz em cativeiro
Como das profundezas de uma trama
Espuma da loucura se derrama
Na procura febril de certo arteiro
Lábio, deleite do mais beijoqueiro
É própria chuvarada fria que brama
Chama viril que vem, submete e inflama
E qual serena e frágil cada entranha
Um seio de repente pula e escapa
Paixão primeira em pompa que solapa
Pois tão furiosamente o toque assanha
Que a cada instante nasce nova etapa
Buscando novamente o que há no mapa
Miguel Eduardo Gonçalves
III - TEU RETRATO
TEU RETRATO
Essa beleza imensa atrai olhares
Causa abalos, eu próprio me atormento
Coube-me este retrato em detrimento
Presídio das lembranças aos milhares
Afã inominável do momento
A vida que me acolhe em tempestades
E tanto o peito oprime, qual barbáries
Reveses singulares, sentimento
Testemunho passado que me algema
Ao reflexo mortífero da noite
Como aos poucos a sorte se regela
Garantia que amputa de quem ama
Em gotas pingo a pingo como açoite
Que sei roubar-me à vida o panorama
Essa beleza imensa atrai olhares
Causa abalos, eu próprio me atormento
Coube-me este retrato em detrimento
Presídio das lembranças aos milhares
Afã inominável do momento
A vida que me acolhe em tempestades
E tanto o peito oprime, qual barbáries
Reveses singulares, sentimento
Testemunho passado que me algema
Ao reflexo mortífero da noite
Como aos poucos a sorte se regela
Garantia que amputa de quem ama
Em gotas pingo a pingo como açoite
Que sei roubar-me à vida o panorama
Miguel Eduardo Gonçalves
II - ANSIEDADE
ANSIEDADE
A gota d´água foste da pureza
Do nosso corpo, o sol maravilhado
E o que me faz feliz, e a ti, braveza
É o tempo que parece estar parado
Pois me findo esperando acorrentado
Na brincadeira firma-se a dureza
Onde o pecado é inacabado
Porque a beleza é feita da certeza
E ao ver-te como vinho envelhecido
Os poros se dilatam e se apuram
Na carne que já tem nos consumido
Quando a graça é tecida sobre a cama
Essência acompanhada de saliva
Volúpia insinuada de quem ama
Miguel Eduardo Gonçalves (2005)
I - DE UM PASSEIO VÁRIO
De um passeio vário
Se qual perfume em cujo olor, surpresa
Anseio estar um tanto quanto louco
Vem a energia em destrambelho acesa
Regar-me inteiro que indizível é pouco
Aspiração, ar penetrante à mesa
São os caprichos em que não me poupo
Acaso enlevo como tal nudeza
Me pense a entrega, e então o fogo douto
Numa panela que as misture enquanto
As carnes tenras à pele em furor
O aroma em ímpeto apaixone tanto
Goze senhor de resolver calor
Próprio verão a encerrar-se manto
Como se diz a tal palavra amor
Miguel Eduardo Gonçalves (2002)
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