terça-feira, 30 de novembro de 2010

VIII - OLHAR CERRADO



















OLHAR CERRADO

Tanto tempo estrelou-me a companhia
Uma, que o pensamento mal oculta
Porquanto ainda vive como ardia
E faz a gula tanta que me insulta

Ritual majestoso que aprecia
Como um olhar certeiro mais exulta
E se aprofunda e faz da pose esguia
Nascer no fundo meu o que resulta

O ser na minha mente qual orquestra
Em cada acorde o vento em ventania
Na música que sinto que me amestra

Mas, percebida assim, fosse volúpia
Haveria de ser por essa fresta
Certa visão perdida de luxúria

Miguel Eduardo Gonçalves


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

VII - MORENINHA...


















Moreninha, tu és da pá-virada
Que as contas dos teus olhos me diziam
Em meio da esperada madrugada
Mensagem que direta nunca embroma

Abaixo pela espinha endiabrada
Vão se chegando ao mando aonde queriam
Meus dedos em carícia desbragada
Por teu sabor querendo ter-lhe o aroma

E a mágica volúpia então diria
Me vira e me desvira sem pudor
Me pega e vai inflando o meu calor

Pois vou te amar até o sol se pôr
Se o teu desejo assim me avalia
Sentindo que te quero noite e dia

Miguel Eduardo Gonçalves


VI - INTROSPECTIVO




















INTROSPECTIVO

Fico na sensação de uma vertigem
Errante pela noite afora, ao vento
O coração rasgado em sua origem
Transforma em agonia o sentimento

E a solidão abarca inteira a noite
Na janela enquadrada que aparece
Qual vazio da lembrança como açoite
Na forma que flagela e permanece

E é tão cortante a dor ali pensada
Que a lágrima se põe aqui sentada
Neste colo marcado a ferro quente

Demoníada dor em mim tatuada
Fora um clamor macabro e onipotente
Que traz ainda um tempo que a consente

Miguel Eduardo Gonçalves


V - COMPLEXIDADE

















COMPLEXIDADE

No carinho das noites estreladas
Compostas de maneira a ser delírio
Em torpor dos sentidos dissipadas
As lentes sobre o nu como colírio

Tal arte está de mãos deliciadas
Sensualidade em nós, prateado lírio
A perpetrar nas áreas mais sagradas
Onde o torpor invade quente e frio

Cálice borbulhante de cristais
Capricho da paixão incandescente
Em suspiros letárgicos e ais

E a força musicada e recorrente
Faz radiante e com gestos ancestrais
Um coquetel de corpos ventre-a-ventre

Miguel Eduardo Gonçalves


IV - AFRODISÍACO


















AFRODISÍACO


Inquieto qual champagne sorrateiro
Teu cheiro que me traz em cativeiro
Como das profundezas de uma trama
Espuma da loucura se derrama

Na procura febril de certo arteiro
Lábio, deleite do mais beijoqueiro
É própria chuvarada fria que brama
Chama viril que vem, submete e inflama

E qual serena e frágil cada entranha
Um seio de repente pula e escapa
Paixão primeira em pompa que solapa

Pois tão furiosamente o toque assanha
Que a cada instante nasce nova etapa
Buscando novamente o que há no mapa

Miguel Eduardo Gonçalves


III - TEU RETRATO



TEU RETRATO

Essa beleza imensa atrai olhares
Causa abalos, eu próprio me atormento
Coube-me este retrato em detrimento
Presídio das lembranças aos milhares

Afã inominável do momento
A vida que me acolhe em tempestades
E tanto o peito oprime, qual barbáries
Reveses singulares, sentimento

Testemunho passado que me algema
Ao reflexo mortífero da noite
Como aos poucos a sorte se regela

Garantia que amputa de quem ama
Em gotas pingo a pingo como açoite
Que sei roubar-me à vida o panorama

Miguel Eduardo Gonçalves




II - ANSIEDADE

























ANSIEDADE

A gota d´água foste da pureza
Do nosso corpo, o sol maravilhado
E o que me faz feliz, e a ti, braveza
É o tempo que parece estar parado

Pois me findo esperando acorrentado
Na brincadeira firma-se a dureza
Onde o pecado é inacabado
Porque a beleza é feita da certeza

E ao ver-te como vinho envelhecido
Os poros se dilatam e se apuram
Na carne que já tem nos consumido

Quando a graça é tecida sobre a cama
Essência acompanhada de saliva
Volúpia insinuada de quem ama

Miguel Eduardo Gonçalves (2005)




I - DE UM PASSEIO VÁRIO

























De um passeio vário

Se qual perfume em cujo olor, surpresa
Anseio estar um tanto quanto louco
Vem a energia em destrambelho acesa
Regar-me inteiro que indizível é pouco

Aspiração, ar penetrante à mesa
São os caprichos em que não me poupo
Acaso enlevo como tal nudeza
Me pense a entrega, e então o fogo douto

Numa panela que as misture enquanto
As carnes tenras à pele em furor
O aroma em ímpeto apaixone tanto

Goze senhor de resolver calor
Próprio verão a encerrar-se manto
Como se diz a tal palavra amor

Miguel Eduardo Gonçalves (2002)