domingo, 31 de julho de 2011

LVIII - PRELIMINARES

Miguel Eduardo Gonçalves-

No desejo de querer sublimar essa paixão
De um encanto me servi para impor-te o preferível
Como fosse o meu prazer escudado na razão
Que te desse as coisas vãs como as quer o iludível

Nessa casca de verniz teu pudor vai sucumbir
E por tanto quanto hás de adorar esse meu dote
Num incêndio em gozos mil queimarás até rugir
Pela chama que jamais tu verás que em mim se esgote

Pois teus olhos que um orvalho de amor há de banhar
É também paixão maior resolvida por um bis
Do romântico erotismo entreaberto à tentação

E então viva inspiração construída de um luar
Infinito e sedutor, sutilmente então me quis
O rigor da realidade a criar a conexão

(Miguel Eduardo Gonçalves)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

LVII - REVOLUÇÃO...


















Coração imprevisível
Que bem sabe como ousar
Não sei decerto explicar
Esse jeito irrescindível
Pois só me diz vagamente
E dispersado, propaga
Aos sentidos, de repente
Como só a paixão faz prova
No consenso do volúvel
De um cenário em mutação
Nascer manifestação
Que se haja indissolúvel
E de um poderoso eflúvio
Seja em si a revolução

Miguel Eduardo Gonçalves

sábado, 23 de julho de 2011

LVI- Este soneto pensa...

Este soneto pensa, e ainda agora
O caos humano segue, muito embora
Se diga a voz do eterno tão clemente
E a escolha a nós pertença, de repente

Assim a vida é crença que não cora
Transforma em dogma o ser de cada hora
E o homem num qualquer subserviente
De tão apaixonado e assaz carente

A mendigar o céu, por recompensa
Que lhe faculte a vida eterna em paz
Precisa crer na Fala, qual sentença

Inabalável fé, que aliás
Não é delírio havido de nascença
Mas sim resposta fácil que lhe apraz

Miguel Eduardo Gonçalves-

LV- Bastante nos furores do "eu lírico"

De um primoroso ver aonde alcança
Em cada rima fácil o que adivinha
Dos soberanos versos que afiança
Habitarem em cada entrelinha
As cores todas próprias da festança
Na vida a natureza como aninha
A pena do poeta nessa andança
Que tanto no sentir redemoinha
Na mais indiferente solidão
Pois que o momento feito no abstrato
Acresce a cada letra uma razão
E expande-se vontade o refutado
Prazer do sangue novo da paixão
Que assim passa a valer como recado

Miguel Eduardo Gonçalves

sexta-feira, 15 de julho de 2011

LIV - A SAGA


Em seu anseio um tal prazer em flor
Foi oração de que esperou torpor
Feito apetite a dar prazer à ceia
Que balançou, lhe dilatou a veia

Porque o desejo em si foi destemor
No inevitável de querer se expor
Sutil mulher, amante de mão cheia
Fatal maneira que de lá verdeia

Em belas sedas que a vontade afaga
Porquanto o tendo inteiramente seu
Dá ocasião exata a essa paga

E frente à prenda no seu apogeu
Acende tanto, que jamais se apaga
Fazendo história numa fértil saga

Miguel Eduardo Gonçalves-

quinta-feira, 14 de julho de 2011

LIII - PRELIMINARES...


Da noite, quando a intensidade é transformada
Na força enorme e carregada de presteza
Que o luxo paire rodeando essa esbelteza
A nossa aura que se faz apaixonada

Pequena e bela maravilha ela arrecada
Ao som das cores diluindo-se princesa
Adora o néctar extraído com surpresa
Por obra e encanto de uma vasta madrugada

Porém no intento bailarino que divise
Venha em suspense e desenhando pelos ares
Aquela pose indiscutível e sem crise

Que o indício claro e insofismável dos olhares
Mais alto fala e qual desejo sem deslize
Momento acaba a incendiar preliminares

Miguel Eduardo Gonçalves-

terça-feira, 12 de julho de 2011

LII - TRUNFO

A gota d´água foste em sutileza
Beleza em raro tom maravilhado
Depois de tanta teima na defesa
Fez o teu templo ser do qual me invado

Porquanto tenha sido sorteado
O meu saber-me firme na certeza
De ser o teu pecado inacabado
Querido instante esse posto à mesa

E assim, sem mais nem menos, gotejando
Os poros, como tochas que faíscam
Exultam quanto amor a ti garanto

Pois nesses picos tantos que beliscam
Capricho ousa louco e sem tamanho
Que afagos fervem mais quando petiscam

Miguel Eduardo Gonçalves-

sexta-feira, 8 de julho de 2011

LI - DESEJO AMANTE

Cruzar contínuo de divinos ares
Longe dos males, no torpor dos mimos
Na luz dos sonhos que risonho apus
Na longa história que tanto seduz...
Teus merecidos, em sagrados traços
impetuosos como devem ser
Deixam-me louco por vaidoso estado
Posto que busco na vontade o ato!
Já nesse urgente em que me nasce a hora
Rito da alma que o amor consente
Razão se afasta, como sei que adoras...
Que em belo sexo que o apetite sente
Rende-se a regra de uma flor agora
Fugindo ao laço, que se faz ausente!


Miguel Eduardo Gonçalves-

quinta-feira, 7 de julho de 2011

L - DO SURTO

Sopro forte toando horripilante
Timbre tocando o sangue, a inconsequência
Presente em forma vã, grande insolência
Que indulta a clara inépcia num instante

E quanto faz verdade na insistência
Caos humano, febril e meliante
No rito de um monólogo lesante
Querendo fazer crer que há decência

Nesse amargor perverso como sina
Haver certeza tanta que imagina
Ser-lhe decerto a forma que não esgarça

Que possa transcender à obra divina
Nos resíduos da vida que disfarça
O que em memória esconde numa farsa
Miguel Eduardo Gonçalves-