terça-feira, 2 de setembro de 2014

CXXIV - UMA PALAVRA APENAS

UMA PALAVRA APENAS

Espero uma palavra apenas, qual ardente
A sorte seja, e a vida, em cálida poesia
Onde minh’alma se dissolva de contente
Um abraçar maior certeza vingaria

Dedico outro pedido a ti, e tão somente
O tempo poderá dizer em sintonia 
Co’as estrelas do céu, se és tu leniente 
Como se fora uma paixão em alforria

Assim, invejo do indizível o que um amante
Omite, quando a noite se revela e passa
Durante as horas, e o relógio não caminha

E essa palavra, que esperada tão picante                   
Por não ser dita, pinta o norte e não escassa
Porque é o tema e com teus belos olhos rima 

(Miguel Eduardo Gonçalves)

terça-feira, 26 de agosto de 2014

CXXIII - CONFIDÊNCIA



CONFIDÊNCIA

Parando para ouvir-te, vício que alteia 
E deixa pelo ar a voz em abandono
Ante a vergonha própria o mau humor verdeia
Fazendo o desvario calar qual céu de outono 

Que me sobreviesse em novo amor agora
Tocando qual brilhante e raro como festa
Como se flecha fora a joia mais sonora
Batuta a permear acordes na floresta

Eis o lugar em que o vagar é sensação
E lá o vento existe e a chuva é tesouro
Flagelo inexprimível é tê-lo, coração

Quer pelo amor passeie ou falte de fazê-lo
Sem ter coragem de deixar recados, sombra
Mesmo que fosse vã, lembrança nua em pelo

(Miguel Eduardo Gonçalves)

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

CXXII - Mar de almirante em céu de brigadeiro...



Mar de almirante em céu de brigadeiro...


Na curvatura em que o horizonte abraça
O mar, tão longe e perto que esse enlace
A vista alcança, para e não ultrapassa,
Sonho lilás que a mim se ajoelhasse.

Que êxtase vagueia e a lua caça,
Para habitar o dia e a minha face,
Senão a noite linda como grassa?
Decerto alguma estrela eu lá achasse! 

Imaginário projetando o esguio
Na própria maravilha que é a cor
Seara altiva pela qual me guio...

Princesas e odaliscas, e uma flor,
Majestade suprema que anuncio 
Da boca que me beija com sabor! 

Miguel Eduardo Gonçalves

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

CXXI - TORRENTE...

TORRENTE 

Orgulhosa envergadura 
De ponta a ponta galante 
Em grande desenvoltura 
Defronte à pupila amante 

Vejo garbosa e madura 
Como será doravante 
A tua eterna tortura 
Preço do encanto gigante 

Vale a trombeta de um anjo 
Que toca e salta contente 
Na melodia de um banjo 

E pinta todo de crente 
Como se fora o marmanjo 
Um namorado inocente 

Miguel Eduardo Gonçalves 


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

CXX - SOLIDÃO


imagem de internet


Tentando a poesia sideral,
Fomenta este soneto de esplendor
Vontade de um momento inquietador
E faz-se a inspiração artesanal.

Listando um sentimento em cada cor,
Regressa em leve tom sensorial,
Ouvindo a solidão que é tão real,
Agora o frágil sangue de uma flor...

Que é de cada um sua ilusão,
Arrancados de si no essencial:
O corpo já esquecido e a mente além...

Palavras nos sentidos que lhes dão,
Perdidas num pensar que é racional,
Que espero estarem em versos não vêm!

Miguel Eduardo Gonçalves


CXIX - ADEUS


foto de veja.abril.com.br


Por que só para quem o teu olhar se volta
Há flores cor de mel adocicando o resto?
Fácil me vem à alma um ‘tico’ de revolta
Chegada é a hora em que repetirei meu gesto.

Já sei que a noite cai, mas o luar não tolda,
Por isso, minha amiga, em versos me refresco,
Que tudo vem e vai, e a vida é que se amolda,
Tornando já o passado em fato pitoresco.

Pior se quando tudo o que existir for pouco,
E cada hora em nós for mal que nos agrida,
Trazendo ao nosso tempo o desgastado rouco.

Não venha se fazer de alma arrependida,
Já sei de cor até cada teu gesto louco,
E tenho para mim que não estás perdida.

Miguel Eduardo Gonçalves 

sábado, 26 de julho de 2014

CXVIII - SOMENTE UM GESTO




Deusa das paixões, a rosa
Da amorosa primavera
Já ao longe se faz cheirosa
E de tudo se apodera

Como é maravilhosa
De um arroubo, essa atmosfera
Tão gentil, tão acintosa
Que jamais se degenera

Quando sente ser chegada
Harmoniza a despedida
Fantasiando a jornada

E, como enfeitando a vida
Quando essa equivale ao nada
Faz-se piedade infinita

(Miguel Eduardo Gonçalves)


terça-feira, 22 de julho de 2014

CXVII - LEMBRANÇAS


Lembranças...

Tecendo à noite certo olhar ausente
Segredo havido a um tempo delicado
Que tudo viça forte e docemente
Fazendo que o olhar seja avivado

Pois hoje neste dia suficiente
Relembro em coisas idas grão passado
Detalhes isolados entre a gente
Apenas num suspiro enamorado

Cantar o sentimento faz sentido
Distingue da paixão, tão inconstante
O escopo de um sentir mais aguerrido

Verdade copiosa de um instante
Que volta à realidade tal cupido
Querendo-se desejo em ti bastante

Miguel Eduardo Gonçalves

sábado, 19 de julho de 2014

CXVI - FASES DO AGORA



Fases do Agora


Neste céu que enfeita o dia
Já à noitinha do poente 
Há na vida que cicia 
Uma festa efervescente.

E da forma que irradia
A ilusão, tão diferente
O momento acaricia
Com os tons do meu nascente.

Que despertar horizonte
Consente esse colorido
Que irá pra trás do monte?

Contradição do ocorrido
Talvez, para mim a ponte
Ao esplêndido florido!

(Miguel Eduardo Gonçalves)

terça-feira, 15 de julho de 2014

CXV - ANJO PERDIDO

Pintura de Anna Razumovskaya


Concordei com a descoberta
Que pasmou a intimidade
A atmosfera é teu perfume
Que me deixa dessa forma

E como fosse desperta
Requintadas de verdade
Eram tuas luzes meu lume
Extasiadas por norma

Fascínio sentido à tez
No toque retribuído
Foi ver-me louco de vez

‘ Champanhe’ em corpo fruído
Soberba em farta higidez
Tu és meu anjo perdido

(Miguel Eduardo Gonçalves)

quinta-feira, 10 de julho de 2014

CXIV - AREAL...


Areal...

O tempo vai passando e pode tanto
Deixado caprichosamente ao vento
Paisagem fina acarinhando o encanto
Razão maior que fisga o pensamento.

Deserto é rio sem margem, entretanto
Só ele, monstro devorante e isento  
É foz qualquer que não entende o pranto
Velando olhares já sem fingimento.

O laço aperta a sorte agudamente
Falar o quê, se esse é o destino
Que intato permanece e vai contente?

Fugaz paixão de um coração ferino
A contemplar meus males, que eloquente
Porém na solidão em que alucino!


(Miguel Eduardo Gonçalves)

segunda-feira, 30 de junho de 2014

CXIII - EM CADA OLHAR


Nos acordes da emoção 
Veio sussurrante a lua 
Em matizes de expressão
Que na intenção continua

E a noite vibra ao sol posto
Tal perfume que extasia 
Singrando pelo bom-gosto
Toda a sua fantasia

E assim é a total entrega
Ilimitada paixão
Em que a excitação navega

Qual furor que tira o chão
Sendo anseio que fumega
Tanto atiça a comichão

(Miguel Eduardo Gonçalves)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

CXII - INSTINTOS



No despertado rito dos amores
Sabor de pele que o desejo afaga
Segredo é desvendado enquanto fores
Eterno paraíso, a madrugada

Achada exata gula em mil sabores
Querida festa em lide incendiada
Libido vinda em fúria dos odores
Atira-se ao prazer e não se apaga

Por si esse momento é sem saída
Resume a sensação mais inconteste
Que faz a humana seiva assim parida

Quão grata é a sedução da luz agreste
Que à mente extrai o ato que traz vida
Ao corpo com a nudez de que o reveste  

(Miguel Eduardo Gonçalves)

domingo, 8 de junho de 2014

CXI - RECREIO DA SACIEDADE



Concede-me outra vez aquele olhar sem fim
Em que perdido fico ainda em louco ardor
Que sabe a noite, enfim, fazer-se lenta em mim 
Leitura aberta ao ser calor por fora ator

Por dentro espreita além, me deixa como vim
Ao mundo respirar, quão nua vens no amor
Que ao toque num desdém, te arde a pele assim
Praiano galopar em tez de um sol reitor

Desejo aplaude em pé e inunda a excitação
Regressa do ideal, havido simplesmente
Do primoroso dia aberto a essa intenção

Um só a dois que a urgência anima e faz fremente 
Necessidade audaz vinda em transpiração
Que à gestual frequência insurge entorpecente


(Miguel Eduardo Gonçalves)

CX - FETICHE



Florescia da musa estonteante
Forte encanto por que se aparecia
Apelante desejo em sintonia
Com o seu frenesi alucinante

Do verão a umidade reticente
Sendo nela miragem sem igual
Convincente manchete, que atual
De maduro esse fruto me consente

Inda mais que dos bicos um segredo
Latejante aos olhares sucessivos
Adivinha em meus atos convulsivos

Ornamenta-se em gestos, um brinquedo
Faz-se amante, constrói-se nesse enredo
Explosão mansamente dos sentidos

(Miguel Eduardo Gonçalves)


CIX - LOUCAAAA!!!



Por entre o vaporoso teu perfume
Sensível flor que aponta a minha rota
E aos olhos vai trazendo de costume
A febre do desejo gota a gota

E em tons as cores traçam teu volume
Fantasiado em face desta grota
Que o frêmito contrai e lhe dá lume
Bem-vinda sinfonia tão marota

É a forma como fazes dentro em mim
Tal néctar de um penhasco se derrama
Deixando-me a galgar como em festim

Quisesse na magia dessa cama
Poder te alucinar pelo estopim
Que deixa esta amazona como a inflama


(Miguel Eduardo Gonçalves)

CVIII - SERPENTEANTE


Naqueles olhos acordados como festa
O meu sentir pelo que vejo desjejua
Como se à luz de um novo esboço a visse nua
Desenharia ela insuspeita e ao que se presta
 

Na dança em que uma perna aponta para a lua
Palpita a marca umedecida que me arresta
E entre os cabelos dessa boca na floresta
Luzindo mostra-se rubor que se acentua

Segue o delírio debruçado na visão
Treme o pincel que em tinta expele um ser ardente
Daquelas coxas separadas de paixão

Eis que onde corre o pensamento mais carente
Nestas palavras que inexplicam a razão
Mora a pintura de um poeta de repente


(Miguel Eduardo Gonçalves)

CVII - ARRANCANDO VERTIGENS


Pupilas que me dão a imaginar
Tão grandes que cintilam ao luar
Teus olhos resplandecem iguarias
Parecem o meus sois das noites frias

Lençol pegando fogo de alagar
Por tal calor se expande pelo ar
Distante em céus imensos de euforias
Triunfos sussurrantes que vivias

Em ser a que abraçasse devagar
Um tal que te fizesse suspirar
E separar as pernas na folia

E desse haver tão grande o desejar
Quisesse a meu juízo ser um mar
De falta de pudor que te encheria

(Miguel Eduardo Gonçalves)

CVI - FRENESI



No carinho das noites estreladas
Mítico para ser todo delírio
Na seara de vozes encantadas
Timbra singelo tom como colírio

A noite está de mãos deliciadas
Tão cúmplice de nós, em prata lírio
A perpetrar nas áreas mais sagradas
Onde o prazer invade quente e frio

Cálice borbulhante de cristais
A retinir os ais inquietamente
Por suspiros letárgicos, -demais-

No frenesi dos corpos mais demente
Radiante gosto, campos siderais
Numa boca enroscada em cada ventre


Miguel Eduardo Gonçalves