terça-feira, 26 de agosto de 2014

CXXIII - CONFIDÊNCIA



CONFIDÊNCIA

Parando para ouvir-te, vício que alteia 
E deixa pelo ar a voz em abandono
Ante a vergonha própria o mau humor verdeia
Fazendo o desvario calar qual céu de outono 

Que me sobreviesse em novo amor agora
Tocando qual brilhante e raro como festa
Como se flecha fora a joia mais sonora
Batuta a permear acordes na floresta

Eis o lugar em que o vagar é sensação
E lá o vento existe e a chuva é tesouro
Flagelo inexprimível é tê-lo, coração

Quer pelo amor passeie ou falte de fazê-lo
Sem ter coragem de deixar recados, sombra
Mesmo que fosse vã, lembrança nua em pelo

(Miguel Eduardo Gonçalves)

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

CXXII - Mar de almirante em céu de brigadeiro...



Mar de almirante em céu de brigadeiro...


Na curvatura em que o horizonte abraça
O mar, tão longe e perto que esse enlace
A vista alcança, para e não ultrapassa,
Sonho lilás que a mim se ajoelhasse.

Que êxtase vagueia e a lua caça,
Para habitar o dia e a minha face,
Senão a noite linda como grassa?
Decerto alguma estrela eu lá achasse! 

Imaginário projetando o esguio
Na própria maravilha que é a cor
Seara altiva pela qual me guio...

Princesas e odaliscas, e uma flor,
Majestade suprema que anuncio 
Da boca que me beija com sabor! 

Miguel Eduardo Gonçalves

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

CXXI - TORRENTE...

TORRENTE 

Orgulhosa envergadura 
De ponta a ponta galante 
Em grande desenvoltura 
Defronte à pupila amante 

Vejo garbosa e madura 
Como será doravante 
A tua eterna tortura 
Preço do encanto gigante 

Vale a trombeta de um anjo 
Que toca e salta contente 
Na melodia de um banjo 

E pinta todo de crente 
Como se fora o marmanjo 
Um namorado inocente 

Miguel Eduardo Gonçalves 


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

CXX - SOLIDÃO


imagem de internet


Tentando a poesia sideral,
Fomenta este soneto de esplendor
Vontade de um momento inquietador
E faz-se a inspiração artesanal.

Listando um sentimento em cada cor,
Regressa em leve tom sensorial,
Ouvindo a solidão que é tão real,
Agora o frágil sangue de uma flor...

Que é de cada um sua ilusão,
Arrancados de si no essencial:
O corpo já esquecido e a mente além...

Palavras nos sentidos que lhes dão,
Perdidas num pensar que é racional,
Que espero estarem em versos não vêm!

Miguel Eduardo Gonçalves


CXIX - ADEUS


foto de veja.abril.com.br


Por que só para quem o teu olhar se volta
Há flores cor de mel adocicando o resto?
Fácil me vem à alma um ‘tico’ de revolta
Chegada é a hora em que repetirei meu gesto.

Já sei que a noite cai, mas o luar não tolda,
Por isso, minha amiga, em versos me refresco,
Que tudo vem e vai, e a vida é que se amolda,
Tornando já o passado em fato pitoresco.

Pior se quando tudo o que existir for pouco,
E cada hora em nós for mal que nos agrida,
Trazendo ao nosso tempo o desgastado rouco.

Não venha se fazer de alma arrependida,
Já sei de cor até cada teu gesto louco,
E tenho para mim que não estás perdida.

Miguel Eduardo Gonçalves