sábado, 19 de março de 2011
XLIII - MATIZES DO SILÊNCIO
MATIZES DO SILÊNCIO
Vestido de encarnado atenta o espaço
No tom profundo e casto de um bom vinho
Carinho em luz de um céu real e escasso
Pintura marchetada azul-marinho
Requinte de um ar leve traça o traço
Mistério do equinócio de um cadinho
Fusão aonde faz-se em modo lasso
Ensejo de um tufão um remoinho
Dilata-se o infinito em candeeiro
Contraste da existência c'o divino
Querendo confundir um sol brejeiro
E as nuvens como sombras que defino
São pautas da emoção de que me abeiro
Segredo impenetrável do destino
Miguel
sábado, 12 de março de 2011
XLII - TEATRO DAS FORMAS
TEATRO DAS FORMAS
Naqueles olhos acordados como festa
O meu sentir pelo que vejo desjejua
Como se à luz de um novo esboço a visse nua
Assim desenho ela deitada, o que me cresta
Daquela dança a perna aponta para a lua
Palpita a marca umedecida pela aresta
Que entre os cabelos uma boca na floresta
Luzindo mostra-se rubor que se acentua
Sangue em delírio debruçado na visão
Treme o pincel, na tinta expele um ser ardente
Pinta os joelhos separados de paixão
Por onde corre o pensamento mais carente
E por palavras que inexplicam a razão
Flui a pintura de um poeta de repente
Miguel-
sexta-feira, 11 de março de 2011
XLI - PAVIO CURTO
PAVIO CURTO
Se afagas, ao primeiro toque o entrego
E se a sede, que faz tamanho alarde
Logo arrebata, e mostra-se a meu ego
Então a mão discreta que não tarde
E o tempo seque a boca da saudade
Cópula que te acende e tanto mata
E morrendo, afinal será a verdade
Qual doce entrega, louca autodidata
Que desabrocha flor, rosa em botão
Natureza sutil que não renegas
Porque tua resistência vai ao chão
Por isso, mas nem só, amo teu físico
Quando a paixão ordena, é às cegas
Que o sinto inteiramente um paraíso
Miguel
segunda-feira, 7 de março de 2011
XL - VOANDO EM CINCO SENTIDOS
Nas garras de u’a mente entorpecida
A vontade degusta e deixa às claras
Por onde toca e bebe o céu da vida
O fato por que mais te apaixonaras
Pois no prazer que o cetro dá a medida
A atmosfera mostra como encara
Certo oásis delira em acolhida
Mais doce do que açúcar demerara
E tudo é degrau que ao outro leva
A vibração que cheira a maresia
Que ondula e que retine enquanto ceva
É aquela coisa louca que extasia
Que faz sentir o corpo ser em névoa
E a mente num estado de afasia
Miguel-
domingo, 6 de março de 2011
XXXIX - SAPECA
SAPECA
Adornada por cachos tom de festa
Reflexos, alegria irreverente
Nos cabelos silvestres de floresta
Na voz branca de sonhos, um presente
Nas palavras douradas, a seresta
Que me força a sentir subitamente
Prazer do contemplar através de
Porquanto a vejo em risos como estrelas
Inexplicáveis traços do por quê
À noite como encanta o antever
E se anda, seu dia fica a mercê
Do instante que tão bem soube fazê-la
E aviva-se o desejo, que se vê
Novamente faminto, como ela
Miguel Eduardo-
XXXVIII - DECOTE DO PENSAMENTO
DECOTE DO PENSAMENTO
Parando para ouvir-te, vício que se alteia
E deixa pelo ar a voz em abandono
Toda a ternura própria onde o humor verdeia
Quer o mistério em mim calar qual céu de outono
Como seria o amor de que a razão é cheia
Tocando a mim brilhante, como nem sei como
A se alastrar em grácil vibração na veia
E em íntimo querer fluísse no abandono
Que força o estágio em que a vagueza faz o tom
Quisesse a sensação em débil versejar
De afeiçoada a ele esqueceria o dom
Que é trazer luxo aos beijos todos sem parar
Como na vida só acontece com a paixão
Quando tempera o verbo ser com o verbo amar
Miguel Eduardo-
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